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Este microbook é uma resenha crítica da obra: Mentes inquietas: TDAH: desatenção, hiperatividade e impulsividade
Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.
ISBN: 8525058394
Editora: Principium
É comum escutarmos relatos de pais e professores sobre certas "crianças problema". Os "pestinhas", como também podem ser chamados, correm de um lado para o outro, não focam nas aulas, não finalizam suas tarefas e parecem nunca escutar os adultos - mas será que é uma questão de desobediência mesmo?
Apesar de muito falado, o Transtorno de Déficit de Atenção, ou TDA, de forma abreviada, é uma condição muito complexa que se manifesta de forma diferente em cada indivíduo. Como podemos identificar essa condição? E mais, como ajudar essas crianças a se sentirem acolhidas em suas comunidades? É o que aprendemos no livro "Mentes inquietas: TDAH: desatenção, hiperatividade e impulsividade". Com sua abordagem rica e otimista, a autora nos ensina a olhar para o déficit de atenção não como uma falha, mas como uma mente acelerada, capaz de feitos incríveis, que não devem procurar se corrigir ou se adequar nos padrões de comportamento considerados "normais", mas sim se compreender tal como são.
Os sintomas do TDA surgem daquilo que a autora chama de trio de base alterada, este trio sendo: a distração, a impulsividade e a hiperatividade. Lembremos aqui que o TDA é um funcionamento diferenciado do cérebro humano que é de origem biológica e hereditário, ou seja, a pessoa precisa nascer dessa forma para manifestar os comportamentos que hoje conhecemos como sendo típicos de pessoas com esse transtorno.
A distração, ou alteração de atenção, costuma ser a manifestação mais conhecida do TDA. É a queixa de chefes, professores e pais: aquela criança, ou adulto, que não se concentra em nada. Com isso, notas baixas, relacionamentos conturbados, produtividade baixa no trabalho, e, consequentemente, uma baixa autoestima afeta essas pessoas. Essa desorganização pode gerar frustrações e um cansaço mental ainda maior, já que esses indivíduos precisam se forçar a completar suas tarefas. Na verdade, para os TDAs, há uma conexão forte entre seus interesses pessoais e o quanto de atenção eles conseguem depositar em suas tarefas. É difícil para eles se concentrarem em tarefas que consideram chatas, mas um jogo, um livro que lhes chama a atenção, podem ter o efeito contrário, causando uma espécie de hiperfoco. Assim, a autora nos lembra que, na verdade, o melhor termo para se referir a essa condição não seria um déficit de atenção, mas uma instabilidade de atenção.
A segunda alteração diz respeito à impulsividade. Dentro da lógica de um funcionamento cerebral "comum", nós recebemos estímulos do mundo externo e reagimos a ele de acordo com nossas experiências passadas. Na mente de um TDA, qualquer influência externa, por menor que seja, pode causar reações mais extremas e rápidas exatamente por seu cérebro funcionar de maneira tão rápida, podendo acarretar em comportamentos ou respostas que a maioria das pessoas entenderia como "exagerado". O maior problema que pode ser acarretado por essa impulsividade é que, por vezes, a resposta descomedida acaba atrapalhando as relações sociais desses indivíduos. Temos no livro o relato de um arquiteto que, nervoso ao ser cobrado por sua chefe, acabava dando respostas que poderiam ser consideradas grosseiras, o que acarretava num círculo vicioso, pois ele tentava voltar as suas tarefas e não conseguia finalizá-las a tempo pois estava preocupado com a resposta que havia dado à sua superior.
Por fim, a hiperatividade física e mental também é um sintoma considerado clássico do TDA. É uma das primeiras coisas que nos vem à cabeça quando pensamos nessa condição. É bastante perceptível em crianças, afinal, é o estereótipo mais conhecido do TDA: crianças agitadas, que não ficam quietas, não terminam suas tarefas - essa é a hiperatividade física. Nos adultos, a hiperatividade é mais manifestada em sua forma que atinge a velocidade de pensamentos do indivíduo. É perceptível quando vemos alguém parado, mas balançando incessantemente seus pés, tamborilando com os dedos. É a manifestação física de uma mente inquieta. Mais uma vez, esse é um comportamento dos TDAs que atrapalham seu convívio social, pois é como se seu cérebro produzisse um "ruído" que os impede de interpretar os sinais sociais de maneira correta.
A partir do trio de base alterado, a dra. Ana Beatriz elaborou 50 formas de manifestação do TDA em adultos, pensando em como se manifestam em relações a situações cotidianas, facilitando a sua identificação tanto em si mesmo quanto em outros. Essa lista foca em âmbitos diversos da vida, o convívio social, no trabalho, família e, até mesmo, em relacionamentos amorosos. Os sintomas estão divididos dentro do trio que ela elaborou de forma tão inteligente na última seção.
Alguns exemplos que podemos apontar: Impaciência para situações cotidianas comuns, como filas; impulsividade para terminar e reatar relacionamentos, ter o costume de fazer várias atividades ao mesmo tempo, como ver TV, trabalhar e escutar música etc. Vale lembrar que a lista é diversa e complexa, afinal, não é por apresentar um ou dois sintomas que você poderia ser diagnosticado como TDA, é um conjunto de fatores. Há inclusive diferentes "níveis" do transtorno, como nos lembra a autora.
Já passamos da metade do microbook…Por muito tempo, psicólogos e psiquiatras determinaram que havia um funcionamento "normal" do cérebro, e qualquer tipo de desvio dessas funções seriam resultado de algum tipo de patologia. Na verdade, hoje se compreende que nenhum cérebro funciona de forma "perfeita" ou ideal. Nenhum indivíduo tem suas funções cerebrais perfeitamente harmônicas atingindo o máximo de sua funcionalidade.
Isto se deve por uma capacidade genética de evolução do ser humano. O homem não é um ser completo, e percebemos as mudanças nas últimas décadas: bebês abrem os olhos mais cedo que antes, os pés femininos agora são maiores. Essas mudanças também são verdadeiras em relação ao cérebro, apesar destas alterações serem menos visíveis. Claro, há também um outro fator de extrema importância para ser levado em conta. O número de estímulos externos que o ser humano precisa absorver e compreender nos dias de hoje é infinitamente maior que o de seus ancestrais, e isto nos leva a processar as informações de modo diferente.
Imaginemos também um cérebro "normal", isso não seria sem graça? Esse suposto "desequilíbrio" cerebral é o que nos permite aflorar algumas habilidades mais que outras. Vemos, por exemplo, como parte das pessoas tem mais aptidão para ciências exatas, e outras para linguagens ou áreas mais criativas. Tentar forçar o crescimento dessas áreas que estes indivíduos possuem menos familiaridade pode atrapalhar o desenvolvimento de seus talentos. Ou seja, seu resultado seria uma pessoa sem grandes falhas em nenhuma área específica, mas que também não se destacaria de forma propriamente dita. Essas variações de pessoa para pessoa são influências de suas condições genéticas, desenvolvimento intrauterino e sim, seu ambiente externo.
Portanto, é comum conhecermos pessoas que possuam traços normalmente atribuídos a um ou outro transtorno, mas que não tenham, de fato, tal diagnóstico. Isso ocorre principalmente porque, apesar de possuírem tais sintomas, esses indivíduos não sofrem com os prejuízos comuns àqueles que foram diagnosticados. A autora nos dá como exemplo uma pessoa que tem mania de limpeza e organização e a diferença para uma pessoa diagnosticada com TOC, que deixaria de sair e ver seus amigos se não conseguisse lavar as mãos. Esta última pessoa tem prejuízos palpáveis em sua vida por conta desses sintomas.
Vale lembrar que os sintomas mais comuns normalmente ligados ao TDA, como a hiperatividade, são exatamente as manifestações mais regulares em indivíduos do sexo masculino. A diferença entre a exteriorização do TDA em um homem e em uma mulher possui várias explicações, de nível biológico e genético ao nível cultural. Até os dias de hoje, o número de diagnósticos em homens e mulheres é desproporcional, sendo de uma mulher a cada três homens. Claro, a falta de diagnóstico ou mesmo um diagnóstico tardio é prejudicial para essas mulheres. Sua dificuldade de concentração e frustração por não atingir as expectativas normalmente atribuídas ao sexo feminino podem causar ansiedade e depressão.
Hoje, ainda não temos respostas concretas se realmente há uma maior incidência do transtorno em indivíduos do sexo masculino, ou se realmente há um número expressivo de mulheres subdiagnosticadas. Normalmente, os sintomas mais comuns em mulheres são os ligados à distração, que se manifesta como desorganização, ou mesmo aquelas que são tidas como "que vivem no mundo da lua".
A dra. Ana Beatriz Barbosa nos traz uma abordagem simples e direta para melhor compreendermos o TDA. Utilizando uma linguagem acessível, a médica também diagnosticada com o transtorno, nos traz uma visão calorosa de como podemos lidar melhor com aqueles que possuem esses sintomas.
Importante lembrar, o Transtorno de Déficit de Atenção é uma condição genética, e portanto hereditária. Muitas vezes pensamos que pode ser uma questão de colocar a criança numa escola mais rígida, deixá-la de castigo sem seus brinquedos para que se concentre em suas atividades, mas isso não impediria a hiperatividade psíquica de se manifestar e afetar sua concentração. Por mais que o ambiente externo possa piorar ou ajudar no caso de uma pessoa com TDA, ele não é o que determina o diagnóstico. É preciso aprender a conviver e apoiar essas pessoas, sempre com muita compreensão e carinho.
Interessado em continuar aprendendo sobre neurodivergências? Desconfia que você ou outro conhecido possuam um funcionamento cerebral diferenciado daquilo que costumamos chamar de "normal"? Dê uma olhada em nosso microbook "Mentes únicas", de Clay Brites e Luciana Brites, e aprenda mais sobre o espectro do autismo.
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Médica graduada pela UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) com residência em psiquiatria pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Curso de Avaliação e Tratamento em Psiquiatria no Departamento de Psiquiatria da University of Chicago Hospitals, sob a supervisão do Dr. Elliot Gershon e Dra. Deborah Spitz. Membro da Academia de Ciências de New York e Professora Honoris Causa pela... (Leia mais)
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